domingo, 17 de junho de 2007

Poema da semana.- Biblioteca ESMS


(de 11 a 15/ 06/07)

Fins de Junho

Sinto-me olhada a furto.
Olham-me,
espiam-me
com modo céptico
e meio terno.
Entra em mim,
toma-me inteira
um estranho retraimento,
desdém,
ou indiferença.
A minha vontade é de fugir,
de me libertar
de me recuperar…

Depois, fora,
oprimida
e entristecida,
desejo reconstruir,
sem saber bem como,
o fio trémulo da vida…
Desejo sentir-me apreciada,
enobrecida!



Irene Lisboa

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Projecto de vida...


"Viver uma vida desapaixonada e culta, ao relento da ideias, lendo, sonhando, e pensando em escrever, uma vida suficientemente lenta para estar sempre à beira do tédio, bastante meditada para se nunca encontrar nele. Viver essa vida longe das emoções e dos pensamentos, só no pensamento das emoções e na emoção dos pensamentos".
Fernando Pessoa,Livro do Desassossego

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Poema da semana.- Biblioteca ESMS

(04/ 06 a 08/06/2007)


QUE O TEU CORPO

Mais que o teu corpo quero o teu pudor
quero o destino e a alma e quero a estrela
e quero o teu prazer e a tua dor
o crepúsculo e a aurora e a caravela
para o amor que fica além do amor.

A alegria e o desastre e o não sei quê
de que fala Camões e é como a água
que dos dedos se escapa e só se vê
quando o prazer se torna quase mágoa.

Estar em ti como quem de si se parte
e assim se entrega e dando não se dá
quero perder-me em ti e quero achar-te
como num corpo o corpo que não há.


Manuel Alegre


Poema da semana.- Biblioteca ESMS

(21/05 a 25/05/2007)

O GRANDE POEMA

Meus pensamentos são como onda em dia de ressaca..
Quebram na areia de oiro a doirada ilusão de seguir adiante
e voltam para o mar!


Erguem de novo em onda, em crista… em espuma…

E tornam a quebrar.
Álvaro Feijó (1916-1941)

quarta-feira, 6 de junho de 2007

A beleza da flor


“Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às cousas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe
Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das cousas: são belas?


Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as cousas,
Perante as cousas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ser o visível

Alberto Caeiro
11-3-1914