sexta-feira, 23 de março de 2007
Poema da semana - Biblllioteca da ESMS
(19/03 a 23/ 03/ 2007 )
O mar é longe, mas somos nós o vento;
e a lembrança que tira até ser ele,
é doutro e mesmo, é ar da tua boca
onde o silêncio pasce e a noite aceita.
Donde estás, que névoa me perturba
mais que não ver os olhos da manhã
com que tu mesma a vês e te convém?
Cabelos, dedos, sal e longa pele,
onde se escondem a tua vida os dá;
e é com mãos solenes, fugitivas,
que te recolho viva e me concedo
a hora em que as ondas se confundem
e nada é necessário ao pé do mar.
Pedro Tamen
sexta-feira, 16 de março de 2007
António Lobo Antunes - a obra
.
Sobre a obra de António Lobo Antunes
A sua escrita nem sempre é fácil mas é colorida, forte e aliciante. Os livros deste escritor são entusiasmantes. O que mais admiro no autor é a capacidade que tem de pintar verdadeiros frescos de Portugal e dos portugueses. Os seus medos, os seus vícios, os seus desejos, as suas vitórias, afinal aquilo que somos. E tudo surge bem estruturado, parco em palavras mas de forma a que todas elas tenham um papel único e essencial. Pelos seus escritos perpassa um humor por vezes corrosivo, uma ironia que nos faz sorrir, rir e que também nos angustia.
A sua escrita nem sempre é fácil mas é colorida, forte e aliciante. Os livros deste escritor são entusiasmantes. O que mais admiro no autor é a capacidade que tem de pintar verdadeiros frescos de Portugal e dos portugueses. Os seus medos, os seus vícios, os seus desejos, as suas vitórias, afinal aquilo que somos. E tudo surge bem estruturado, parco em palavras mas de forma a que todas elas tenham um papel único e essencial. Pelos seus escritos perpassa um humor por vezes corrosivo, uma ironia que nos faz sorrir, rir e que também nos angustia.
“Quando chegámos de Trás-os-Montes o senhor doutor arranjou espaço no celeiro para nós, mandou colocar um tabique a separar-nos do milho, atamancámos um tecto para nos proteger dos morcegos que andam por aí a falar com voz de gente, pusemos o fogão a um canto, aproveitámos a pia da adega para as necessidade e lembro-me que no verão acordava no escuro e escutava as rãs do pântano, a insónia dos cães e o desassossego dos bezerros, o meu pai a ressonar o mesmo barulho que o moinho, via o candeeiro do doutor aceso no escritório, as laranjas brilhavam na paz de Agosto ardendo devagarinho como as lamparinas dos santos, e sentia-me bem, sentia-me eterna, sentia-me feliz dado que o tempo parecia parado para sempre e que ninguém ia morrer. De manhã as laranjas apagavam-se, o tractor começava a trabalhar…”
ANTUNES, António Lobo – O Manual dos Inquisidores: Publicações Dom Quixoter. Lxa., 1996
ANTUNES, António Lobo – O Manual dos Inquisidores: Publicações Dom Quixoter. Lxa., 1996
quinta-feira, 15 de março de 2007
Poema da semana.- Biblioteca ESMS
quarta-feira, 14 de março de 2007
Prémio Camões
terça-feira, 13 de março de 2007
Bibliotecas Escolares
Para o ano lectivo de 2007/2008
09.03.2007 - 13h43 Lusa
Esta notícia que veio a lume no Público de 10/3 veio criar um pouco de esprança no panorama das bibliotecas escolares. É prematuro no entanto tirar muitas conclusões. Em abstracto pode considerar-se uma medida positiva mas não deixa de provocar um grande número de questões.
Será que finalmente o Governo por meio do Ministério da Educação tomou consciência de que o grande problema do ensino em Portugal reside na iliteracia, e que esta só será combatida com acções concertadas que incentivem à leitura e promovam a compreensão da mesma?
Será que para além dos coordenadores de biblioteca a tempo inteiro há espaço para os outros elementos da equipa?
Será que se vai proceder a uma formação especializada, actualizada e contínua dos elementos da equipa da biblioteca?
Será que a Biblioteca passará a estar “obrigatoriamente” representada no Conselho Pedagógico?
Será que os Conselhos Executivos vão tomar consciência da importância da Biblioteca na escola?
Será que a Biblioteca passará a ter um orçamento próprio?
Estas são algumas questões em que eu gostava que os responsáveis do Ministério se detivessem antes de legislarem.
Esta notícia que veio a lume no Público de 10/3 veio criar um pouco de esprança no panorama das bibliotecas escolares. É prematuro no entanto tirar muitas conclusões. Em abstracto pode considerar-se uma medida positiva mas não deixa de provocar um grande número de questões.
Será que finalmente o Governo por meio do Ministério da Educação tomou consciência de que o grande problema do ensino em Portugal reside na iliteracia, e que esta só será combatida com acções concertadas que incentivem à leitura e promovam a compreensão da mesma?
Será que para além dos coordenadores de biblioteca a tempo inteiro há espaço para os outros elementos da equipa?
Será que se vai proceder a uma formação especializada, actualizada e contínua dos elementos da equipa da biblioteca?
Será que a Biblioteca passará a estar “obrigatoriamente” representada no Conselho Pedagógico?
Será que os Conselhos Executivos vão tomar consciência da importância da Biblioteca na escola?
Será que a Biblioteca passará a ter um orçamento próprio?
Estas são algumas questões em que eu gostava que os responsáveis do Ministério se detivessem antes de legislarem.
quinta-feira, 8 de março de 2007
Os Direitos Inalienáveis do Leitor
1
O Direito de Não Ler
2
O Direito de Saltar Páginas
3
O Direito de Não Acabar Um Livro
4
O Direito de Reler
5
O Direito de Ler Não Importa o Quê
6
O Direito de Amar os “Heróis” dos Romance
7
O Direito de Ler Não Importa Onde
8
O Direito de Saltar de Livro em Livro
9
O Direito de Ler em Voz Alta
10
O Direito de Não Falar do Que se Leu
Daniel Pennac
1
O Direito de Não Ler
2
O Direito de Saltar Páginas
3
O Direito de Não Acabar Um Livro
4
O Direito de Reler
5
O Direito de Ler Não Importa o Quê
6
O Direito de Amar os “Heróis” dos Romance
7
O Direito de Ler Não Importa Onde
8
O Direito de Saltar de Livro em Livro
9
O Direito de Ler em Voz Alta
10
O Direito de Não Falar do Que se Leu
Daniel Pennac
quarta-feira, 7 de março de 2007
Gabriel Garcia Marquez
(nos 80 anos de Gabriel Garcia Marquez)
"Santiago Nasar enfiou umas calças e uma camisa de linho branco, ambas por engomar, iguais às que vestira no dia anterior para o casamento. Era roupa janota. …………………………………………………………………………………………….
Quando saía ao monte levava à cintura um 357 Magnum, cujas balas blindadas, segundo dizia, podiam rachar um cavalo ao meio. No tempo das perdizes levava também os apetrechos da falcoaria. No armário tinha além disso uma espingarda 300 Holland Magnum, uma Hornet com mira telescópia de dois comandos, e uma Winchester de repetição. Dormia sempre como dormiu o pai, com arma escondida na fronha do travesseiro, mas antes de sair de casa naquele dia retirou os projécteis e pô-los na gaveta da mesinha-de-cabeceira. “Nunca a deixava carregada”, disse-me a mãe. Eu sabia disso, e sabia também que ele guardava as armas num sítio e escondia as munições noutro sítio bastante afastado, para que ninguém cedesse nem por acaso à tentação de carregá-las dentro de casa. Era um costume sábio imposto pelo pai desde a manhã em que uma criada sacudiu o travesseiro para tirar a fronha, e a pistola disparou-se ao embater no chão, e a bala escaqueirou o armário do quarto, atravessou a parede da sala, passou com um estrondo de guerra pela sala de jantar da casa vizinha e converteu em pó de gesso um santo em tamanho natural no altar-mor da igreja, do outro lado da praça. Santiago nasar, então menino, não esqueceu nunca a lição daquele percalço."..
Quando saía ao monte levava à cintura um 357 Magnum, cujas balas blindadas, segundo dizia, podiam rachar um cavalo ao meio. No tempo das perdizes levava também os apetrechos da falcoaria. No armário tinha além disso uma espingarda 300 Holland Magnum, uma Hornet com mira telescópia de dois comandos, e uma Winchester de repetição. Dormia sempre como dormiu o pai, com arma escondida na fronha do travesseiro, mas antes de sair de casa naquele dia retirou os projécteis e pô-los na gaveta da mesinha-de-cabeceira. “Nunca a deixava carregada”, disse-me a mãe. Eu sabia disso, e sabia também que ele guardava as armas num sítio e escondia as munições noutro sítio bastante afastado, para que ninguém cedesse nem por acaso à tentação de carregá-las dentro de casa. Era um costume sábio imposto pelo pai desde a manhã em que uma criada sacudiu o travesseiro para tirar a fronha, e a pistola disparou-se ao embater no chão, e a bala escaqueirou o armário do quarto, atravessou a parede da sala, passou com um estrondo de guerra pela sala de jantar da casa vizinha e converteu em pó de gesso um santo em tamanho natural no altar-mor da igreja, do outro lado da praça. Santiago nasar, então menino, não esqueceu nunca a lição daquele percalço."..
MARQUEZ, Gabriel Garcia – Crónica de uma morte anunciada.Lisboa;Edições O Jornal (pags 9,10)
segunda-feira, 5 de março de 2007
Sugestão de leitura (Março)
MASON, Daniel - O afinador de pianos
Edgar Drake, um jovem afinador de pianos, é enviado, no final do século XIX, pelo Ministério da Guerra britânico, para a selva da Birmânia, onde um raro piano necessita de afinação. O instrumento pertence a um oficial cujos métodos pacificadores pouco ortodoxos – poesia, medicina e música – trouxeram uma acalmia à região, mas suscitaram reservas por parte dos seus superiores. Na sua viagem através de um mundo até aí totalmente desconhecido, Edgar conhece soldados, místicos, bandidos, contadores de histórias… e uma mulher tão fascinante e enigmática como o próprio major médico em cujo forte, num remoto rio birmanês, vai encontrar uma realidade mais misteriosa e perigosa do que alguma vez poderia imaginar
domingo, 4 de março de 2007
Ainda o conto
O menino que escrevia versos
De que vale ter voz
Se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
Se o que vivo é menos do que o que sonhei?
(Versos do menino que fazia versos)
- Ele escreve versos!
Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço de alpinista em topo de montanha.
- Há antecedentes na família?
- Desculpe, doutor?
…………………………………………………………………………………………….
Tudo corria sem mais, a oficina mal dava para a escola do miúdo da escola. Mas eis que começaram a aparecer, pelos recantos da casa, papéis rabiscados com versos. O filho confessou, sem pestanejo, a autoria do feito.
- São meus versos, sim.
O pai logo sentenciara: havia de tirar o miúdo da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, perigosos contágios, más companhias.
…………………………………………………………………………………………….
D. Serafina defendeu o filho e os estudos. O pai, conformado, exigiu: então, que ele fosse examinado.
……………………………………………………………………………………………..
Olhos baixos, o médico escutou tudo, sem deixar de escrevinhar num papel. Aviava já a receita para poupança de tempo. Com enfado de clínico se dirigiu ao menino:
- Dói-te alguma coisa?
- Dói-me a vida, doutor.
O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreendera. Já Dona serafina aproveitava o momento: Está a ver, doutor? Está a ver? O médico voltou a erguer os olhos e a enfrentar o miúdo.
- E o que fazes quando te assaltam essas dores?
- O que sei fazer, excelência.
- E o que é?
- É sonhar…
COUTO, Mia – O fio das missangas (pag.133-137) . Lisboa: Caminho, 2004
De que vale ter voz
Se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
Se o que vivo é menos do que o que sonhei?
(Versos do menino que fazia versos)
- Ele escreve versos!
Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço de alpinista em topo de montanha.
- Há antecedentes na família?
- Desculpe, doutor?
…………………………………………………………………………………………….
Tudo corria sem mais, a oficina mal dava para a escola do miúdo da escola. Mas eis que começaram a aparecer, pelos recantos da casa, papéis rabiscados com versos. O filho confessou, sem pestanejo, a autoria do feito.
- São meus versos, sim.
O pai logo sentenciara: havia de tirar o miúdo da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, perigosos contágios, más companhias.
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D. Serafina defendeu o filho e os estudos. O pai, conformado, exigiu: então, que ele fosse examinado.
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Olhos baixos, o médico escutou tudo, sem deixar de escrevinhar num papel. Aviava já a receita para poupança de tempo. Com enfado de clínico se dirigiu ao menino:
- Dói-te alguma coisa?
- Dói-me a vida, doutor.
O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreendera. Já Dona serafina aproveitava o momento: Está a ver, doutor? Está a ver? O médico voltou a erguer os olhos e a enfrentar o miúdo.
- E o que fazes quando te assaltam essas dores?
- O que sei fazer, excelência.
- E o que é?
- É sonhar…
COUTO, Mia – O fio das missangas (pag.133-137) . Lisboa: Caminho, 2004
sexta-feira, 2 de março de 2007
Sugestões de leitura - o conto
Um conto
O fresco
Chamavam-lhe o Enjeitado, mas não era alcunha. Era mesmo do nome, quere-se dizer, dele. Havia lá na aldeia um velho que era uma espécie de memória colectiva. De modo que sabia tudo de tudo. E quando ele lá apareceu, explicou. O bisavô ou o pai dele, quer era portanto o trisavô, fora mesmo um exposto da misericórdia da vila. E então esse tal trisavô ou o filho dele, como toda a gente lhe chamava assim adoptou o nome para acabar com alcunha.
…………………………………………………………………………………………….
O nome dele era Roberto Enjeitado Feliz. Chamavam-lhe Senhor Roberto, que também não era um primor. Do pai ou do avô tinha-lhe vindo uma casa, já fora da aldeia. Mas passavam-se anos que ninguém a vinha habitar.
…………………………………………………………………………………………….
Até que um dia veio ele.
……………………………………………………………………………………………
Como era novo na aldeia, as pessoas andavam inquietas, à espera que se desse ao convívio para tudo ser normal e corriqueiro. Mas não…
Este conto faz parte do livro Uma esplanada sobre o mar de Vergílio Ferreira
…………………………………………………………………………………………….
O nome dele era Roberto Enjeitado Feliz. Chamavam-lhe Senhor Roberto, que também não era um primor. Do pai ou do avô tinha-lhe vindo uma casa, já fora da aldeia. Mas passavam-se anos que ninguém a vinha habitar.
…………………………………………………………………………………………….
Até que um dia veio ele.
……………………………………………………………………………………………
Como era novo na aldeia, as pessoas andavam inquietas, à espera que se desse ao convívio para tudo ser normal e corriqueiro. Mas não…
Este conto faz parte do livro Uma esplanada sobre o mar de Vergílio Ferreira
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