para te manteres vivo - todas as manhãs
arrumas a casa sacodes tapetes limpas o pó e
o mesmo fazes com a alma - puxas-lhe o brilho
regas o coração e o grande feto verde-granulado
deixas o verão deslizar de mansinho
para o cobre luminoso do outono e
às primeiras chuvadas recomeças a escrever
como se em ti fertilizasses uma terra generosa
cansada de pousio - uma terra
necessitada de águas de sons afectos para
intensificar o esplendor do teu firmamento
passa um bando de andorinhas rente à janela
sobrevooam o rosto que surge do mar - crepúsculo
donde se soltaram as abelhas incompreensíveis
damemória
que se enforcam com a corda de noctilucos
luzeiros marinhos sobre a pele - peixes
estendida nesta mudança de estação
de “Horto de incêndio”
Al Berto
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