segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Regresso ao poema da semana


para te manteres vivo - todas as manhãs

arrumas a casa sacodes tapetes limpas o pó e

o mesmo fazes com a alma - puxas-lhe o brilho

regas o coração e o grande feto verde-granulado


deixas o verão deslizar de mansinho

para o cobre luminoso do outono e

às primeiras chuvadas recomeças a escrever

como se em ti fertilizasses uma terra generosa

cansada de pousio - uma terra

necessitada de águas de sons afectos para

intensificar o esplendor do teu firmamento


passa um bando de andorinhas rente à janela

sobrevooam o rosto que surge do mar - crepúsculo

donde se soltaram as abelhas incompreensíveis

damemória


que se enforcam com a corda de noctilucos

luzeiros marinhos sobre a pele - peixes

estendida nesta mudança de estação


de “Horto de incêndio”

Al Berto

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